Após ganhar Bíblia, ex-jogador do Inter disse: "Quero aceitar Jesus"

Chiquinho, um homem de fé Mateus Bruxel/Agencia RBS
Com passagens por grandes clubes do futebol brasileiro incluindo Vitória-BA, Palmeiras-SP e Internacional de Porto Alegre, o polivalente Chiquinho continua treinando e esperando propostas para retornar ao futebol. Em entrevista ao site zh.clicrbs.com.br/ o jogador falou sobre a sua carreira, testemunho, e como se converteu ao evangelho.
Chiquinho sempre teve fé de que jogaria pela Seleção. E foi por ter fé que jogou sua Copa do Mundo. Não aquela da Fifa, badalada, bilionária. Mas uma Copa do Mundo Cristã, em que gol é detalhe. O que vale mesmo é espraiar solidariedade, amor ao próximo e valores.
Aos 32 anos, o lateral-esquerdo surgido como preciosidade no Inter faz do futebol ação humanitária. Foi assim no final de 2014, quando embarcou numa viagem à Índia para defender o Brasil no Mundial Cristão. Em julho, empreendeu outra viagem pela Europa e pelo Marrocos para nova jornada de solidariedade com a bola nos pés. Chiquinho segue jogador profissional, agora como meia-esquerda. Disputou o Campeonato Goiano pelo Itumbiara no primeiro semestre e treina com um preparador físico à espera de proposta. Mas, enquanto elas não chegam, se engaja em trabalhos sociais vinculados à sua igreja evangélica, a Aspirantes de Cristo.
Chiquinho se converteu quando ainda atuava pelo Paulista, de Jundiaí. Estava no alojamento do clube, sob a arquibancada do estádio Jaime Cintra, quando dois companheiros de time o abordaram:
— Como é sua vida com Deus?
— Não tenho muita relação com Deus — respondeu.
Os dois companheiros de time o presentearam com uma Bíblia. No começo, Chiquinho lia e recorria à dupla para ajudar na interpretação das mensagens. Não demorou para que anunciasse:
— Quero aceitar Jesus.
O meia procurou nas orações conforto para aplacar algumas aflições. Estava insatisfeito com seu comportamento, que colocava em risco o casamento de cinco anos. Também resistia em aceitar os descaminhos do futebol. Não entendia como jogadores da sua geração brilhavam na Europa enquanto ele patinava em times das Série C e D. Foram duas crises de depressão. A primeira no Joinville, em 2009. Foi ao fundo do poço quando se deu conta de que era reserva na Série D.
— Como vim parar aqui? Eu sou jogador de Série A — repetia em sua cabeça enquanto via os jogos do banco.
A mulher, Juliana, entrou em ação. Surpreendeu-o com um endereço em pedaço de papel:
— Não foi com esse homem que casei. Amanhã, neste horário, é sua primeira sessão com a psicóloga.
Chiquinho relutou. Mas aceitou. Com ajuda profissional, entendeu que para recuperar terreno precisava treinar firme e jogar. Acabou a temporada como titular. Mas martelava em sua cabeça:
— Sou jogador de Série A.
Chiquinho em viagem humanitária pela Europa
Davi Mota/Divulgação

Em 2010, essa obsessão o fez embarcar numa furada. O River Plate, do Uruguai, apresentou oferta. Chiquinho vasculhou a internet em busca do site oficial do clube. Não encontrou. Nem ia. O River é um clube médio do carente futebol dos vizinhos. Mas jogava a primeira divisão. E isso bastava para Chiquinho. Na chegada, levou um baque. Foi hospedado por um mês em um motel decadente. O colchão já molenga afundava no meio. Os dirigentes cumpriram a palavra e o colocaram no apartamento acertado no contrato. Mas já era tarde. A depressão havia voltado. Por telefone, Chiquinho avisou o pai, Lauri:
— Vou largar o futebol.
No dia seguinte, seu Lauri desembarcou em Montevidéu. Passou um período com Chiquinho. Logo, a mulher e o filho também chegaram. A crise depressiva foi vencida. Sem ajuda médica. Foi na marra. O meia iria rodar ainda por São José-Poa e Vitória-BA antes de ganhar a Bíblia no alojamento do Paulista e dar o que considera a guinada da sua vida.
A fé fez Chiquinho aceitar que havia descido até a Série D sozinho. O orgulho e a vaidade haviam abreviado sua passagem pelo Inter. Bateu de frente com dirigentes e ficou sem ambiente. Depois do Paulista, rodou por América-RN e outra vez no São José. Nessa nova fase, em vez de reclamar da vida, tratava de desfrutar de jogar. A harmonia em casa havia sido reposta. Os filhos João Pedro, 10 anos, de um primeiro relacionamento, e Francisco, cinco, ganharam uma irmã. Clara, hoje com um ano e oito meses, iluminou ainda mais a vida.
Em 2014, Chiquinho disputou o Gauchão pelo São José e passou o segundo semestre apenas com treinos. Foi quando veio o convite para integrar a seleção brasileira na Copa do Mundo Cristã, na Índia. Jéfferson, um ex-jogador com passagem pelo Defensor-URU, Nancy-FRA, Arábia Saudita e Índia procurava jogadores para reforçar a equipe. A missão, mais do que representar o país, era mergulhar em ações humanitárias.
Chiquinho topou o convite. Foram 12 dias entre Goa, Bangalore e Haidelbat. O grupo se conheceu no aeroporto de São Paulo. Mas havia algumas caras conhecidas, como o volante Mineiro, campeão mundial pelo São Paulo, o ex-lateral Barão e o ex-atacante Camanducaia. Mesmo que a recepção dos indianos tenha sido digna de popstars, a Copa Cristã era marcada pelo desapego material. A delegação foi hospedada em seminários. O sono era em colchonetes, e o banho, com bacia d'água e canequinha. As viagens entre as sedes foram de ônibus. Uma delas, durou 16 horas. Os buracos na lataria faziam o vento entrar e gelavam o ambiente. Em nada lembrava o conforto dos tempos de Inter.
— Foi uma oportunidade de trabalhar o caráter, a humildade, de saber valorizar o que temos. Os lugares em que estivemos na Índia carecem do básico, de saneamento — diz Chiquinho.
Nos intervalos dos jogos, os brasileiros ministraram clínicas para crianças indianas. Estiveram em escolas e até em um convento, onde cerca de 400 meninas aprenderam um pouco de futebol. A seleção voltou para casa ainda na primeira fase. A Copa do Mundo contava com oito seleções em dois grupos de quatro. O Brasil empatou com a Índia em 2 a 2, perdeu para Portugal por 2 a 0 e venceu Gana por 4 a 2. Mas a missão estava cumprida.
Chiquinho ficou entusiasmado com as clínicas de futebol e testemunhos de superação dados às crianças. Tanto que topou nova viagem em julho. O roteiro incluiu Espanha, Portugal, Polônia e Marrocos. Havia confirmado presença na delegação cristã quando duas propostas chegaram à sua casa, na Zona Sul da Capital. Eram contratos por um ano em Israel e El Salvador. Só que havia ganho tanto com a experiência na Índia que agradeceu e negou as ofertas.
Na Europa, a seleção cristã fez alguns jogos e muitos trabalhos sociais. Um deles foi um amistoso contra presidiários em Algeciras, cidade próxima da costa, no Sul da Espanha. O goleiro adversário era um paranaense preso por tráfico. Terroristas, contrabandistas e assassinos completavam o time. Chiquinho admite algum receio inicial, mas a bola rolou e as diferenças sumiram. Ao final, no espanhol trazido da passagem pelo Uruguai, contou um pouco de sua vida. Falou do medo trazido pela lesão no cérebro do início da carreira, das peças pregadas pela carreira de jogador e do caminho que escolheu para tocar a vida. Um caminho pavimentado pela fé.
 

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